monografia
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA EDUACAÇÃO INFANTIL
- O DISCURSO DE CONSUMO
Lina Daniele Ferreira de Freitas
Nova Friburgo
2009
Lina Daniele Ferreira de Freitas
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA EDUACAÇÃO INFANTIL
- O DISCURSO DE CONSUMO
Monografia apresentada à Universidade Estácio de Sá como condição parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social.
Orientador: João de Deus Corrêa
Nova Friburgo
2009
Lina Daniele Ferreira de Freitas
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA EDUACAÇÃO INFANTIL
- O DISCURSO DE CONSUMO
Grau:_________________________________
____________________
Banca Examinadora:
Prof. Evlen Joice Lauer Bispo sanchez
Prof. Roberto Fonseca Vieira
João de Deus Corrêa (orientador)
Nova Friburgo
Dezembro/2009
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha mãe Dilma, meu pai Jorge Bandeira, minhas irmãs, ao meu noivo por me apoiarem, me darem forças, me aturarem e continuarem sempre meus amigos nas horas de estresse. Dedico a minha grande amiga Amanda Faria que, por um acaso do destino, ela não se encontra mais conosco e aos demais amigos por todo apoio recebido nestes anos de estudo.
AGRADECIMENTOS
A educação de um ser humano abrange diferentes fases e formas ao longo da vida. Tantos contribuem para esta formação e em momentos tão diversos que torna – se inviável sermos justos em agradecimentos. Com a consciência desta limitação, gostaria de agradecer a algumas das pessoas que tornaram possível a minha graduação.
A Deus, por todas as vitórias e conquistas adquiridas ao longo desta jornada. Aos Meus Pais, pela paciência e carinho, pelo apoio que me deram por esses anos de estudos. A minha eterna gratidão. Obrigada! Às minhas Irmãs Dinaly e Giselle, pelo apoio, carinho e compreensão nos momentos difíceis ao meu noivo Roberto, por me ajudar e compreender nesses momentos de estudo que ficou ao meu lado, pelo amor carinho e pelas horas de choro e estresse que ele aturou e mesmo assim continuou me apoiando, Beto obrigado pelo carinho. A amiga Amanda Faria (in memória), por todos os momentos de alegria que passamos nesta universidade e por todo o apoio que me deu.
Ir além da missão de dar notícias para uma missão mais ampla de ajudar a melhorar a vida pública; deixar para trás a noção do observador desprendido e assumir o papel de participante justo; preocupar-se menos com as separações adequadas e mais com as ligações adequadas; conceber o público não como consumidor, mas como atores na vida democrática, tornando assim prioritário para o jornalismo estabelecer ligações com os cidadãos.
(MERRIT).
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar alguns pontos acerca do Consumismo Infantil. As causas são inúmeras, mas como ser em construção, sabe-se que as crianças, expostas demasiadamente a televisão são vitimas de programações claramente consumistas.
Na verdade é um assunto que durante muito tempo passou despercebido, muito pouco debatido pela sociedade, porém, acreditamos ser uma marca da modernidade, e globalizada. O consumismo vem fazendo parte da vida das crianças contemporâneas, ganhando espaço rapidamente, causando diversos conflitos. As preferências e os interesses das crianças modificam-se a cada dia, tornando-as mais exigentes e certas do que querem.
Elemento muito presente na sociedade, a televisão precisa ser resgatada para trazer contribuições educativas direcionadas ao publico infantil.
Palavras-chave: Mídia, Educação, consumo infantil.
ABSTRACT
This paper aims to present some points about the consumption by children. The causes are numerous, but as being under construction, it is known that children exposed to too much television are victims of schedules clearly consumer.
Actually it's a subject that has long gone unnoticed, little discussed by society, but we believe it is a mark of modernity, and global. Consumerism has been part of the lives of contemporary children, gaining ground rapidly, causing various conflicts. Preferences and interests of children are modified each day, making them more demanding and some of what they want.
Element is very present in society, the television must be rescued to bring contributions to public education targeting children.
Keywords: Media, Education, consumption by children.
SUMÁRIO
Resumo..........................................................................................................7
Abstract.........................................................................................................8
Introdução....................................................................................................10
Capítulo I. Perspectiva histórica...................................................................15
1.1. A TV no Brasil......................................................................................17
1.2. A TV Digital.........................................................................................22
Capítulo II. A influência dos meios de comunicação na infância................25
2.1. O poder de Influência da Mídia...............................................................25
2.2. A Influência da Música no Comportamento Infantil..........................................28
2.3. O Alcance da Mídia no Imaginário Infantil...............................................29
2.4. A Influência Nos Desejos.......................................................................31
2.5. Globalização, tecnologias e consumismo: uma nova infância em construção
....................................................................................................................34
2.6. Pais, filhos e consumo: como agir diante desse conflito...........................35
2.7. Na sinfonia dos Tempos.........................................................................36
Capítulo III. O papel da televisão no desenvolvimento da criança..............39
3.1- Os desenhos animados como processo de socialização................................41
3.2- O processo de imitação.........................................................................45
Considerações Finais.................................................................................49
Referências Bibliográficas ........................................................................52
INTRODUÇÃO
“A informação televisiva pode se transformar em processo de formação contínua e permanente para o exercício da cidadania.”
Lia Alves
A comunicação, em si, é um fenômeno que tem marcado a história do ser humano, tanto individualmente quanto em sua constituição como grupo tribo ou sociedade. Por meio dos mais diversos processos de troca de dados e, com eles, as experiências, os homens foram montando os mais diversos recursos usados em direção ao progresso. A TV é incumbida de levar ao público a realidade do mundo exterior; não importando se corresponde ou não à história de nossa realidade, mas sim o que é o mundo de fato. É evidente que o conteúdo veiculado pela televisão é idealizado pela burguesia, fração que controla o poder econômico e/ou político da sociedade. Sendo assim, a TV fala em nome do sistema.
“A função social do sistema é levar o público a assumir atitudes compatíveis com o estado atual dos conhecimentos (...). Para cumprir tal função o sistema representado pela televisão deve esconder o que não se pode mostrar (...)[1]” .
A grande questão é observar a forma ocasional e informar como a TV se dirige à criança, portanto com a responsabilidade educativa;ela transformou-se em um meio de consumo e, neste contexto, aborda o universo infantil. Produtos repletos de violência e erotismo são apresentados e divergem do conceito educacional, embora existam programas que estimulam o desenvolvimento da criança.
Qual a relação da TV com a educação infantil? Através da análise reflexiva das ações cotidianas dessa mídia para a criança é possível constituir um padrão de consumo?
De acordo com o site[2]( http://www.discoverykidsbrasil.com/_home/) o canal Discovery kids é ágil, inteligente e interativo, com isso conecta as crianças a outras do mundo inteiro. Ele possui sinais próprios para o Brasil e o restante da América Latina, com transmissões em português e espanhol, respectivamente. Antes, era um canal destinado ao público de todas as idades, com programas como a Mecânica Popular para Jovens, Fantasma Escritor e outros programas. Agora é um canal direcionado ao público infantil (0-6 anos).[3]
Nas grandes emissoras de TV, a palavra de ordem é atrair e manter a atenção do público, satisfazendo seu interesse pelo sensacional, pelo espalhafatoso e pelo consumo. DEBORD explica esse momento como uma das características da sociedade do espetáculo, universo onde tudo é possível. Em tal sociedade o consumo e a imagem ocupam o lugar que antes era do diálogo pessoal e produzem o isolamento e a separação social.
Toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação[4]
Em seu artigo, PACHECO[5] ressalva que a indústria eletrônica empurrou as crianças a uma "babá eletrônica" - a TV - que funciona vinte e quatro horas por dia, condicionando a rotina destas e de seus familiares, através do "show" que não pára. Afirma também que a TV, como em certa medida, os computadores, favorece um novo tipo de compreensão e de comunicação baseada nas propriedades da imagem, porém com relação a sua influência, nenhuma ciência pode adotar uma resposta definitiva sobre se a TV é boa ou não para as crianças, pois dependerá de como ela é utilizada. Por caracterizar-se como um veículo de comunicação simples e de fácil acesso é que se faz necessária a tarefa de educar as crianças para a compreensão dos conteúdos veiculados pela comunicação de massa, e não os tornando uma fonte inesgotável de consumo.
O objetivo desta monografia é mostrar como a TV se relaciona com o universo infantil e utiliza o discurso do consumo para as crianças; também se propõe a examinar quais as características embutidas na programação que representam o consumo. Trabalha se com a Hipótese de mostrar como as emissoras de TV apostam em um novo formato de imagens e programas voltado especificamente para atrair o publico infantil. Em verdade, as imagens e a forma como elas são trabalhadas, apenas vêm mostrar as apostas destas emissoras na produção para garantir a audiência e venda.
Faz-se necessário o estudo da relação da mídia na educação infantil para uma análise de como a TV utiliza o discurso de consumo para as crianças.
É indiscutível a maneira como as novas técnicas de marketing infantil alteram nossa percepção de espaço e tempo. Isso acaba por exercer uma influência direta na maneira como vemos o mundo e como o consumo de alguns produtos mostrados na TV influenciam muitas vezes no universo e na educação infantil; daí a importância de estudar a relação da mídia na educação infantil através de canais de TVs voltados ao universo infantil.
È importante este estudo porque para a área de comunicação social / jornalismo porque vem apresentar a forma com que os meios de comunicação vêm se relacionando com o universo infantil e como esses meios podem influenciar a criança a consumir determinados produtos.
A pesquisa a ser realizada será de tipo qualitativa, um estudo que se dará através de análise de edições diárias dos canais de TV no período de Agosto a Novembro de 2009.
A partir dessas edições diárias será observado todo o aspecto relacionado à mídia na educação infantil, tendo como princípio que os canais de TV apostam nas imagens e na forma como elas são trabalhadas para garantir uma boa audiência e atrair os olhares das crianças para o consumo de determinados produtos.
A análise da relação de consumo da mídia na educação infantil abrangerá a questão da fragmentação da educação infantil, da velocidade da informação, entre outras. Para isso tomaremos como base os canais de TV relacionados à criança; através destes será feita uma comparação de como é o discurso de consumo e educação para mostrar como a mídia pode ter uma grande influencia no consumo e na educação infantil.
Meninas que acham o máximo ter os cabelos longos e loiros como os da Barbie; meninos que gostam de brincadeiras violentas e sonham em ser como os personagens da TV. Bebês que mal aprenderam a falar e já agregaram em seu pequeno vocabulário o nome de marcas famosas. Esses são apenas alguns exemplos de atitudes influenciadas pela TV e que hoje fazem parte do cotidiano de muitas famílias.
A proposta do consumo sem limites atinge em cheio o inofensivo público infantil. Não há regras no Brasil que imponham restrições ao marketing de produtos para crianças e adolescentes. A vulnerabilidade dos jovens é explorada à máxima potência nos mais diferentes meios de publicidade. Nossas casas, escolas e espaços públicos são invadidos por mensagens. Nada ou pouco se faz para proteger as crianças desse assédio.
O público infantil não é apenas alvo de propaganda para consumo imediato. As crianças são, desde cedo, estimuladas para que se tornem futuros consumidores de bens, destinados ao público adulto. Sua fidelidade prematura às marcas é promovida ostensivamente. Os meninos são estimulados desde pequenos a idolatrar o carro, as meninas, a moda. Os jovens são chamados ao mundo do consumo em busca de acesso ao prazer ilimitado, pelo chamariz da eletrônica, da música, do cinema.
Historicamente, diversos autores têm alertado a sociedade sobre o fetiche da mercadoria, da sociedade de imagens, e os riscos inerentes ao hiperconsumismo. ADORNO advertia, já na década de 1960, a respeito do risco da constituição da indústria cultural.
“Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam essas capacidades em virtude de sua própria constituição objetiva.” [6]
Fica claro, portanto, a grande intenção dos canais de TV em obscurecer a percepção das pessoas, principalmente daquelas que são formadoras de opinião: a criança que certamente aprende com o que vê e como os pais ficam rendidos. LINN[7] adverte que a indústria do marketing vem se sofisticando, assessorada por psicólogos de fina estirpe, que estudam as mais diversas nuances da vulnerabilidade infantil e paterna. Chegou-se ao cúmulo de classificar os tipos de pais, segundo sua maior ou menor propensão a ceder à pressão dos filhos. Consideram indulgentes, os pais que cedem a qualquer pressão; companheiros, os que querem se divertir com as crianças; conflitantes, os divorciados ou solteiros, cujo ato de compra serve para aliviar culpas; e a categoria 'necessidades básicas', são aqueles capazes de se esquivar dos apelos. Com isso, os profissionais de marketing procuram entender como melhor direcionar as mensagens publicitárias, para garantir que a emulação das crianças surtirá o efeito desejado.
CAPÍTULO 1- PERSPECTIVA HISTÓRICA
A Televisão Como Meio de Comunicação de Massa
Nos dias de hoje, já nada é como “antigamente”. A sociedade vem desenvolvendo-se e transformando-se, assim como a televisão e os seus conteúdos.
A televisão é, no início, algo de que se começa a gostar; a usamos como simples entretenimento, mas ela se torna viciante de uma maneira tão rápida que nos é mesmo inconsciente. Esta “entra-nos” pela casa adentro, e cada um de nós, por mais que queira, não consegue ser- lhe indiferente. Este vício televisivo atinge um numero infinito de pessoas, as quais se sentem tão atraídas por este objeto “vivo”, que as leva mesmo a experimentar e ter atitudes e comportamentos idênticos, pela forma real ou mesmo fictícia que faz chegar a todos suas mensagens.
Segundo Wolton (1996), a televisão desempenha o papel de mantenedora do laço social e assume também o papel de comunicadora social. O espectador, ao assistir à televisão, agrega-se a esse público potencialmente imenso e anônimo que assiste simultaneamente, estabelecendo, assim, com ele, uma espécie de “laço invisível”. Essa idéia funciona como se o telespectador, ao assistir a um programa, soubesse que outras pessoas também estão assistindo ao mesmo programa; formando uma espécie de laço especular e silencioso. A televisão integra todas as formas interativas: a modalidade escrita, oral e audiovisual da comunicação.
De acordo com Bucci (1997) é difícil enxergar um Brasil fora da Televisão. Para um assunto ter relevância, hoje, é necessário que passe pela TV, do contrário o assunto será ignorado. “É como se tratasse de um país menos importante sem a televisão”.
Em 1817, o químico sueco Jacob Berzelius descobriu o selênio e, a partir deste ano, muitos cientistas contribuíram para a descoberta da televisão.
Em 1873, o telegrafista inglês Willougeby Smith May percebeu o efeito fotoelétrico do selênio e realizou as primeiras investigações que levariam os cientistas alemães Julius Elster e Hans Geitel a produzirem a célula fotoelétrica. Mas foi o alemão Paul Nipkow que patenteou o primeiro equipamento de televisão capaz de transmitir imagens à distância. Ele produziu um disco cheio de pequenas perfurações, montado de forma que, girando em alta velocidade, pudesse projetar a grandes distâncias a imagem de uma pequena cruz. Os pequenos buracos estavam dispostos em forma espiral e colocados na frente de um cristal de selênio. Tratava-se de um processo mecânico. Em 1923, o russo nacionalizado norte-americano Wladimir Kosma Zworykin patenteou um tipo especial de tubo, que chamou de “iconoscópio”. Esse tubo pemitiu eliminar o processo mecânico de Nipkow. Mas foi o cientista escocês John Logie Baird que, em 1925, na procura da forma de transmissão de fotos e desenhos pelo rádio, descobriu a televisão. Ele conseguiu transmitir a imagem de um amigo de sua casa à do vizinho.
No dia 31 de março de
“A televisão era uma realidade. Mas havia ainda um sério problema a resolver: o iconoscópio exigia uma quantidade exagerada de luz, e mesmo assim, a imagem reproduzida era diferente.” (PATERNOSTRO, 1999:24)
Foi Wladimir Zworykin quem descobriu a solução para o problema apontado pela autora. Ele desenvolveu a vávula orthicon que, adaptada à câmera, equilibrava a luz e melhorava a qualidade técnica da imagem. A partir de
A chegada da Segunda Guerra Mundial cortou radicalmente as experiências e o avanço das transmissões televisivas, e todas as pesquisas com o veículo foram voltadas para a área militar. As transmissões foram interrompidas em quase todos os países envolvidos no conflito, só ficando fora desta regra à Alemanha e os Estados Unidos. E é justamente nos Estados Unidos que a televisão vai alcançar seus maiores êxitos, com o fim da guerra. Segundo Paternostro:
“Durante a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento da TV sofreu uma parada... Mas, entre o final dos anos 40 e o começo dos
1.1- A TV no Brasil
Em 1948, Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, cadeia de jornais e emissoras de rádio, viajou aos Estados Unidos para comprar equipamentos de televisão, acompanhado de Mário Alderighi e Jorge Edo, técnicos do rádio brasileiro, que iniciaram estágios na RCA e na NBC, em Nova York, para aprenderem a utilizar os equipamentos que chegariam no Brasil dois anos mais tarde. Também em 1948, durante a comemoração do centenário da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, houve transmissão experimental de televisão. Naquela ocasião Olavo Bastos foi o primeiro operador de câmera brasileiro.
No Brasil, a televisão chega em 1950, por meio do empreendedor Assis Chateaubriand. Tão precária e exótica quanto o pioneirismo do responsável pela sua chegada ao país, ela tornou-se, em pouco tempo, a grande catalizadora das emoções e do sentimento de pertencimento a uma nação. Contribuiu para a formação do mercado consumidor brasileiro que migrava do campo para a cidade, num processo de modernização que ia além das fronteiras nacionais. Foi no dia 18 de setembro de 1950, em São Paulo, que o lendário Assis Chateaubriand, patrocinado pelas empresas Companhia Antártica Paulista, Sul América Seguros, Moinho Santista, Prata Wolff e pelo governo, inaugurou oficialmente a primeira estação de televisão no Brasil – a TV Tupi Difusora de São Paulo. Apesar dos protestos de Walther Obermuller, engenheiro norte-americano, diretor da NBC-TV, que veio ao Brasil para supervisionar a instalação dessa primeira emissora, com uma hora e meia de atraso, o primeiro programa da televisão brasileira foi correto do começo ao fim:
“Improvisado e irresponsável, é certo, mas impecável. Ao final de duas horas de programação, só um especialista familiarizado com o funcionamento de um canal de TV (e não havia ninguém assim no Brasil) poderia perceber que apenas duas, e não três câmeras, haviam funcionado.” (MORAIS, 1994:503)
Após dois dias de sua inauguração, dia 20 de setembro de 1950, lançava a edição do primeiro telejornal: Imagens do Dia. “O desfile cívico-militar pelas ruas foi à primeira reportagem filmada exibida.” (REZENDE, 2000:105)
Em janeiro de 1951 foi inaugurada a TV Tupi, do Rio de Janeiro. Ainda em 1951, os primeiros televisores começam a ser fabricados no Brasil, mas apesar de se tornarem mais acessíveis, ainda era um produto muito caro e possuir um televisor passa a ser símbolo de “status”. Em dezembro desse mesmo ano vai ao ar a primeira telenovela brasileira, “Sua vida me pertence”, escrita por Walter Forster.
Muitos foram os programas apresentados e, aos poucos, aperfeiçoados pela TV Tupi. Tais como: “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, “Clube dos Artistas”, entre outros. Até que em 1953, vai ao ar a primeira edição do “Repórter Esso”, programa jornalístico de sucesso no rádio, agora na televisão. Permaneceu por 17 anos no ar, sob o comando de Gontijo Teodoro.
Em 1952 é inaugurada a TV Paulista, pertencente ao grupo do deputado Ortiz Monteiro. Em setembro de 1953 inaugura-se a TV Record de São Paulo, pertencente à família Machado de Carvalho; ela foi a primeira emissora inaugurada em prédio construído especificamente para televisão e não adaptado como as demais. Em 15 de julho de 1955 é inaugurada a TV Rio, por João Batista do Amaral, e em 8 de setembro a TV Itacolomi, em Minas Gerais, pertencente aos Diários Associados. Já em 1959 foi inaugurada a TV Excelsior, pela família Simonsen. A maior parte do pessoal técnico e artístico da tevê provinha do rádio e do teatro e os programas daí resultantes combinavam telejornalismo com espetáculos culturalistas. De acordo com Paternostro:
“Nesses primeiros dez anos da TV brasileira, o aparelho de televisor ainda era um artigo de luxo. Em 1954, existiam 12 mil aparelhos no Rio e em São Paulo; em 1958, eram 78 mil em todo o país. A programação das emissoras seguia, então, uma linha de ‘elite’, com artistas e técnicos trazidos do rádio e do teatro. Entrevistas, debates, teleteatros, shows, música erudita eram as principais atrações.” (PATERNOSTRO, 1999:29)
No começo eram apenas importações, reproduções de programas do rádio. Até fins dos anos 60, a penetração da TV ainda era tímida e, mesmo assim, o espaço público no Brasil era demarcado nos limites postos pela televisão. Com o papel de integradora nacional, o País passou a se reconhecer como unidade. “Diante da tela, os brasileiros torcem unidos nos eventos esportivos, choram unidos nas tragédias, acham graça, unidos dos palhaços que aparecem. Divertem-se e se emocionam”. (BUCCI, 1997:11).
“O Brasil que se via fora da TV foi perdendo sua legitimidade no espaço público, como se tratasse de um Brasil menos importante, menos conseqüente, menos verdadeiro. Pouco a pouco, a linguagem audiovisual da TV, perpassando os domínios diversos do debate público, monopolizou-o”. (BUCCI, 1997: 14).
Para CAPARELLI (1982) essa história deve ser compreendida dentro do contexto mais amplo do desenvolvimento capitalista que, a partir da década de 50, estabelece uma nova ordem internacional, na qual o capitalismo monopólico - enquanto um modo de produção material e intelectual – para constituir-se e generalizar-se, reproduzir-se e recriar-se continuamente, engendra também idéias, valores e doutrinas.
Embora no Brasil, profundas transformações econômicas tenham ocorrido desde a década de 30, são os anos 50 que marcam uma reordenação do mercado brasileiro, através das operações comerciais, financeiras e industriais de grandes corporações, na sua maioria de origem estrangeira, e a Revolução de 1964 que lhe confere o seu caráter estrutural.
Assim, a história da televisão brasileira pode ser dividida, segundo o mesmo autor, em duas fases. Uma primeira, que vai do seu surgimento em 1950 até 1964 e é caracterizada pelo capital nacional, a improvisação e o pioneirismo e uma segunda, caracterizada pela entrada de investimentos estrangeiros, especialmente norte-americanos, e pela profissionalização e aperfeiçoamento de suas empresas.
Do ponto de vista dos grupos que marcaram uma e outra fase, podemos caracterizar, como o faz Caparelli, a primeira como a do “Império Chateaubriand”, em alusão ao poder exercido pelas empresas Associadas de propriedade de Assis Chateaubriand no setor de comunicação nacional e a segunda como a do “Monopólio da Globo”, que a partir de 1964 cria um dos maiores conglomerados de comunicação do Brasil e do mundo.
No Império Chateaubriand a televisão começa a se desenvolver nos principais pólos econômicos do país, nos quais os Diários Associados, jornais do Grupo Chateaubriand, já estavam consolidados. As primeiras emissoras televisivas eram totalmente dependentes da tecnologia industrial norte-americana que não só fornecia os equipamentos técnicos para as primeiras transmissões como também os receptores que começam a fazer parte dos lares brasileiros. Em termos de programação, havia uma transposição do rádio para o novo meio, tanto em relação aos recursos humanos quanto em relação aos programas. Porém, como ainda não havia o vídeo-tape, toda a programação televisiva era produzida nas regiões e, apesar de já passar por uma padronização na sua forma e conteúdo, era caracterizada por elementos da cultura local, o que definitivamente deixa de acontecer a partir da integração que ocorrerá com o surgimento das grandes redes de televisão na década de 60.
A partir de 1960 começa um novo panorama na história da TV, havia então 15 estações de TV concentradas nas capitais. Então daí a televisão começa a assumir o seu caráter comercial e a disputar verbas publicitárias com base na busca de maior audiência. Acerca desse assunto, Paternostro relata: “Os anos 60 consolidaram a TV no Brasil. Na disputa pelas verbas publicitárias, ela assume, definitivamente, o seu caráter comercial: começa a briga pela audiência!” (PATERNOSTRO, 1999:30). A técnica do vídeo-teipe era a base tecnológica para essa mercadologia de tendência monopolística. As idéias de programação norte-americana começaram a ser importadas e, junto com elas, os enlatados. Tiveram início também os programas de auditório, que culminaram nos festivais. A luta pelo mercado publicitário funcionou como uma espécie de pioneirismo mercadológico para a afirmação da TV Globo, fundada em 26 de abril de 1965, por Roberto Marinho. Tal TV foi o verdadeiro começo do sistema televisivo brasileiro, ela era protegida por um contrato com o grupo norte-americano Time Life. Mas sua arrancada começa efetivamente em 1967; porque o grupo Diário Associados, proprietário da TV Tupi, liderado por João Calmon, começou uma campanha contra a associação, proibida na Constituição da época. Resultado: a parceria teve que ser desfeita, mas, ao mesmo tempo, deu audiência para a Globo, pois a repercussão da "guerra" travada foi grande.
"...na realidade, a contribuição do Time-Life não passou de um financiamento - sem juros e sem prazo - da escolha de equipamentos insuficientes e de um totalmente novo, bonito e inadequado projeto arquitetônico que em nada contribuiu para a TV Globo; (...) Time-Life não sabia nada do Brasil; (...) fracassaram em todos os lugares onde se meteram em televisão aberta". (BORGERTH, 2003:30/31)
Já em 1969 a Time Life retira-se da Globo e esta finalmente nacionaliza-se.
Com o endurecimento do regime militar a partir do final de
“Nesse período, há uma guinada da TV brasileira, em que ela, de maneira geral, adere de corpo e alma aos projetos da ditadura militar, cuja prioridade era afastar da cena pública os artistas e intelectuais mais influentes, substituindo-os por gente mais cordata, convencida pelas teses da segurança social”. (BUCCI, 2000:70)
A TV se tornou, no decorrer das décadas de 70 e 80, o meio de expressão encarado pela intelectualidade brasileira como o lugar de genuflexão aos poderosos de plantão, do acatamento acrítico a tudo que o novo regime tentava impor à população.
Em 1979 o presidente Geisel extingue o AI5, e em 1982 é suspensa a censura prévia aos noticiários e a programação da televisão, acabando assim, o período rígido. Em
A nova Constituição estabeleceu o fim da censura e, no seu lugar, surgiu o sistema de classificação etária, destinado a orientar a programação das emissoras. Os anos 90 foram marcados por uma alteração no perfil da televisão brasileira, com a incorporação de contingentes até então à margem do consumo. Além disso, como aconteceu nos Estados Unidos, a TV aberta passou a sofrer a concorrência da TV a cabo e de outras formas de acesso via satélite.
1.2 - A TV digital
A história da televisão digital iniciou-se nos anos 1970, quando a direção da rede pública de TV do Japão Nippon Hoso Kyokai (NHK), juntamente com um consórcio de 100 estações comerciais, deram carta branca aos cientistas do NHK Science & Technical Research Laboratories para desenvolver uma TV de alta definição (que seria chamada de HDTV). Segundo Paternostro:
“(...) a televisão está entrando na era da tecnologia digital e isso significa que todas as possibilidade que nossa imaginação puder criar são viáveis, desde que os especialistas em telecomunicações e informática continuem na acirrada competição saudável em busca da Digital Television, a DTV, a televisão digital”. (PATERNOSTRO, 1999:50)
No Brasil, a história da TV Digital começou em 1994, quando 17 emissoras de televisão e pouco mais de dez empresas interessadas no advento da TV Digital criaram o grupo SET/Abert, e juntamente com a Universidade Mackenzie passaram a pesquisar os três sistemas de transmissão de TV Digital: o modelo ATSC americano, o modelo DVB europeu e o modelo ISDB japonês. O ano de 1996 também ficou marcado pela chegada da DirecTV, primeiro sistema de TV digital no país, porém pago e inacessível à maioria da população. No final daquele ano chegou a SKY para competir nesse mercado. Em 1998 foram iniciados os trabalhos do primeiro consórcio técnico com a Universidade Mackenzie, que resultou nos primeiros testes de laboratório e de campo que duraram seis meses: entre agosto de 1999 e março de 2000. O governo federal criou 22 consórcios técnicos envolvendo 106 universidades públicas e privadas brasileiras, institutos de pesquisa e empresas privadas, e aplicou cerca de R$ 60 milhões do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações para a criação de inovações brasileiras, incluindo o aperfeiçoamento de equipamentos e tecnologias e de softwares nacionais.
Em 2003 o Presidente Luís Inácio Lula da Silva assinou o Decreto n.º 4.901, que criou o Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, ou SBTVD, e o Comitê de Desenvolvimento, responsável por sua implementação. Após o término da primeira fase de estudos em 2006, o presidente Lula assinou o decreto de n.º 5.820 que criou Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, responsável por padronizar e harmonizar as tecnologias nacionais, desenvolvidas pelas universidades e centros de pesquisas brasileiros, com a tecnologia da ARIB (Association of Radio Industries and Businesses) do Japão e outras.
A TV Digital apresenta um sistema de transmissão de dados por meio de um código binário, no qual som e imagem são digitalizados. A transmissão através da TV Digital é sem interferências, com maior qualidade de imagem e som, maior variedade de canais, além da possibilidade de usar recursos interativos. De acordo com Bolaño:
“A televisão digital apresenta-se como uma plataforma tecnológica capaz de realizar a convergência de inúmeros serviços de comunicações, podendo reduzir as fronteiras entre as indústrias culturais (...). A TV digital por se tratar de uma tecnologia nova, depende de um conjunto de variáveis, relativas à regulamentação, decisões estratégicas dos operadores e uso dos consumidores.” (BOLAÑO, 2007:25)
A primeira transmissão oficial de sinal de TV digital no Brasil ocorreu em 2 de dezembro de 2007, às 21h20, na Sala São Paulo, na cidade de São Paulo. A solenidade reuniu mais de 2000 pessoas e contou com a presença do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e de grandes empresários do setor.
CAPÍTULO 2. A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA INFÂNCIA
"Grandes realizações não são feitas por impulso, mas por uma soma de pequenas realizações. "
( Vincent Van Gogh )
2 .1 O poder de Influência da Mídia
Desde o nosso nascimento sofremos influência do meio que nos cerca. Aprendemos por imitação captando do ambiente todos os estímulos que ele oferece. “Segundo teóricos da aprendizagem social, a identificação de gênero é conseqüência da observação e imitação de um modelo, que pode ser os pais ou outras pessoas.” (BANDURA & HUDSON,1961)”. Dentre os estímulos que mais influenciam o comportamento infantil estão os dispostos pelos meios de comunicação, principalmente pela televisão.
Sendo assim, gerada por meios de comunicação de massa, a influência atinge a quase totalidade da população brasileira e mundial. Este estímulo pode ser construtivo quando auxilia no desenvolvimento da criança, propiciando a ela informações que estimulem a novas descobertas, como fazem alguns programas destinados ao público infantil. Por outro lado, muitas pesquisas vêm destacando a capacidade de proporcionar ao desenvolvimento infantil verdadeiro transtornos que o acompanharão por toda a vida, como destaca Lordello:
“A Associação Americana de Psicologia, num estudo em 1992, concluiu que as crianças americanas, antes de completarem o primeiro grau, já assistiram cerca de 8000 assassinatos, 100.000 atos de violência na televisão.”[8] Além da violência, muitos outros estímulos fazem verdadeiros bombardeios às pequenas mentes impulsionando-as ao consumismo, podendo ter uma ligação estreita entre ambas, como observa SOLLBERG:
“Se pensarmos nos países pobres ou aqueles que possuem uma maioria de excluídos, percebemos que essa prática é infinitamente mais prejudicial do que o parâmetro normal, seus efeitos são verdadeiramente devastadores, funcionam como umas bombas de efeito moral desencadeiam uma perseguição desenfreada ao sonho de consumo e ainda favorecem uma possível conduta criminosa, principalmente nos jovens desiludidos, desempregados e desafortunados, que por fim procuram um meio de compensação para esses desejos não satisfeitos; nesse rol alternativo temos as drogas, as gangues, a rebeldia, a violência, o baixo aproveitamento escolar, dentre outros fatores que oneram o futuro coletivo social.” (SOLLBERG, s.d.; s.p)
Além disso, o poder de influência acaba por moldar comportamentos e a padronizar culturas, transmitindo aquela fornecida pelos meios de comunicação como a ser seguida ou como melhor. Os meios de comunicação de massa, principalmente a televisão, como o maior do país, traz em sua programação um efeito destrutivo ao desenvolvimento psicossocial das crianças permeando-as de cenas de violência, exposição exacerbada a sexualidade, propiciando aos jovens cada vez mais cedo iniciarem sua vida sexual; trazem muitas cenas de racismo, de impunidade e de uma vida de sonho a quem muitas vezes não tem o que comer. Dessa forma a criança desenvolve-se sob a propagação de ideologias oriundas de outras realidades muito diferentes da sua, transmitida muitas vezes com uma carga de violência, de imoralidade e de preconceito, como observa CAVALLEIRO.
“As crianças contam ainda com os meios de comunicação (televisão, jornal, filmes, livros, gibis, revistas, rádio etc.) como um importante influenciador para as atitudes raciais. Assim, no processo de socialização primária, por meio das relações sociais, a criança pode ser levada a cristalizar sentimentos e idéias racistas. E, dada a sistemática dessas relações, ela pode mesmo sem se dar conta, paulatinamente, incorporar um modo de pensar e agir em relação aos grupos raciais, a ponto de tomar como suas crenças e valores que lhes foram transmitidos por outros.” CAVALLEIRO[9]
Sendo assim, com toda carga de apelação ao consumo, exposição à violência e à sexualidade, a criança tende a desenvolver-se com um comportamento que se assemelha ao que ela recebe. Desta forma, é afetada nas fases de desenvolvimento infantil, como aponta PIAGET apud ROCHA:
“quando postula sua teoria sobre o desenvolvimento da criança, descreve-a, basicamente, em 4 estados, que ele próprio chama de fases de transição. Essas 4 fases são o Sensório-motor (0 – 2 anos), o Pré-operatória (2 – 7 anos), Operações concretas (7 – 12 anos) e o estágio das operações concretas.” (ROCHA)
A imposição de comportamentos e tendências impróprias para cada idade pode gerar comportamentos desconexos com os desejados para cada fase do desenvolvimento infantil. Sabe-se que a criança tem que construir passo a passo seu desenvolvimento biopsicossocial e que ele se dá através da vivência e das experiências pelas quais a criança se submete. Estas premissas, se acompanhadas por profissionais como professores ou especialistas preparados, são analisadas e eles podem interferir para auxiliar ou encaminhar no ponto exato onde a criança necessita possibilidade tal que a televisão não proporciona que é a de trabalhar unindo o conhecimento do cotidiano do aluno ao científico, para construir um novo, como observa que deve ser feito ALENCAR:
“Essa ponte tão necessária e importante parece-nos estar distante do cotidiano pedagógico, o que nos leva a indagar sobre o papel da escola e principalmente do professor no processo de ensino e aprendizagem estabelecendo um vínculo entre o conhecimento prévio do aluno e o conhecimento a ser adquirido.” ALENCAR[10]
A maioria dos usuários dos programas televisivos se encontram longe da realidade das quais eles são produzidos. Sendo assim, eles recebem uma realidade bem diferente daquela que vivem, sendo providos de observar mundos muito distintos do seu. Aprender sobre outras culturas ou comportamentos pode auxiliar na construção do conhecimento, desde que o seu não seja desprezado ou considerado inexistente.
2.2 A Influência da Música no Comportamento Infantil
A música pode ajudar no desenvolvimento da criança auxiliando-a a desenvolver-se biopsicossocialmente (psiquismo, corpo, meio sócio-econômico cultural), sendo muito utilizada em instituições de ensino para auxiliar o aluno, principalmente nas pré-escolas, e poderiam ser muito mais utilizadas por toda a vida escolar, como afirma Campos...
“Por seu poder criador e liberador, a música torna-se um poderoso recurso educativo a ser utilizado na Pré-Escola. É preciso que a criança seja habituada a expressar-se musicalmente desde os primeiros anos de sua vida, para que a música venha a se constituir numa faculdade permanente de seu ser.” CAMPOS[11]
Sendo assim, tendo a oportunidade de ouvir e interpretar músicas com alto valor literário, desde a infância, persistindo pela vida, a criança terá uma valorização cultural muito significativa. Ao desenvolver as reais virtudes que a língua proporciona onde a música, os livros, a televisão e principalmente a escola auxiliam a construir, teremos contribuído para o real desenvolvimento do aluno que é a construção de sua cidadania.
Porém, tem-se visto que as mídias, principalmente a televisão o rádio e atualmente a internet, cada vez mais acessada, trazem até a população, e afetam ainda mais as crianças, músicas sem nenhum valor literário. Estas estão apelando cada vez mais pela sexualidade e trazem intenções pornográficas. São normalmente acompanhadas por mulheres seminuas e que circulam livremente por todos os horários, sem nenhuma restrição. Entre estas músicas podemos citar principalmente algumas letras e grupos de funk que vem atingindo a um público cada vez mais heterogêneo, deixando de ser uma marca dos adolescentes dos morros cariocas, realidade onde foi criada e atingindo a massa. Desta forma, muitas crianças estão sendo inseridas neste mundo, sem ao menos terem condição de decidir se é isso mesmo que querem para si.
A escola tem um papel primordial neste contexto, não o de reprimir a criança de ouvir tais músicas, mas sim de inserir outras de maior valor intelectual para que o desenvolvimento infantil tenha possibilidade de adquirir todas as etapas de maturação e que cresça podendo analisar tudo o que recebe e possa decidir criticamente aquilo que realmente quer. Este poder de crítica se desenvolve ao longo da vida e é possibilitado pelo uso da língua permitindo ao aluno o contato com as variações lingüísticas. Todas as variações culturais devem ser respeitadas sendo o cidadão capaz de optar pela que seja melhor para si e para toda a sociedade a que pertence.
2.3 O Alcance da Mídia no Imaginário Infantil
O imaginário infantil numa sociedade dependente da mídia está sujeito a manipulações que transformam os seus estágios naturais de formação e crescimento e os direciona para uma existência servil e utilitária, num interesse agressivo de perpetuação do "modo de viver" até então estabelecido.
As dificuldades que existem para que a educação infantil se processe dentro do seu contexto familiar e social controlado, faz com que as pessoas busquem alternativas e facilitadores, que deliberadamente lhes são colocados à mão como paliativos imediatos, que logo se tornam soluções inquestionáveis e acabam por determinar o rumo das coisas por definitivo.
A televisão como representante máxima da "mídia", muitas vezes aparece como principal alternativa em substituição aos pais, amigos, babás ou irmãos na educação de uma criança. Se analisarmos as condições em que estamos vivendo, chegaremos à conclusão que muito pouco é feito para que esta situação se modifique. Já que isto se apresenta como de difícil solução, acredita-se que poderíamos trabalhar no sentido de interagir neste processo e procurar a sua evolução de uma maneira mais humana e civilizada.
Longe de hostilizar a televisão, o rádio, os meios de comunicação, porém não apetece também sacralizá-los. Entende-se que o processo civilizatório em que estamos vivendo, nos coloca numa condição que nos permite encontrar soluções interativas que proporcionem não só influenciar no desenvolvimento do imaginário infantil, mas também se deixar levar por ele, absorvendo a sua magia natural que a todo o momento nos surpreende de maneira extremamente profunda e feliz. O nosso espaço urbano já não nos permite o exercício lúdico do brincar:
“... É que a casa do bairro afastado foi substituída pelos apartamentos das zonas centrais, onde as crianças foram confinadas, nada lhes restando, a não ser a "babá eletrônica". Nas zonas centrais, o brinquedo de rua acabou; não existem mais árvores e nem praças onde as crianças possam brincar; tudo foi ocupado pôr edifícios e vias expressas. É o progresso! Não é de admirar que, apenas na televisão, as crianças possam se encontrar com animais, acidentes geográficos e as mais variadas surpresas. O que resta é o sonho (...), a fantasia (...)”. (PACHECO, 1991:10)
2.4. A Influência Nos Desejos
“Muitas das crianças que vivem suas infâncias hoje fazem parte de um mundo em que explodem informações” [...] (Dornelles, 2005, p.72).
A infância está contextualizada num cenário de diversas tecnologias, que vão desde o acesso [...] “à esfera digital dos computadores, da internet, dos games, do mouse, do self-service, do controle-remoto, dos joysticks, do zapping” [...] (Dornelles, 2005, p.80).
Através do depoimento dos educadores, percebemos que a tecnologia é vista de maneira positiva, desde que se faça um bom uso da mesma, que irá acrescentar um algo a mais para a formação escolar, além de facilitar o aprendizado das crianças.
Na sala de aula, o consumismo está presente e diretamente ligado à desigualdade, o que a torna lugar onde se encontram crianças de diferentes níveis socioeconômicos, que dividem em comum apenas os mesmos desejos de consumo.
Frente às diferenças existentes entre os alunos, os educadores responderam que propõem total igualdade e respeito entre todos na sala de aula, considerando sempre a realidade de vida de cada um, já que nem todos possuem o mesmo padrão. Como o consumismo tende a expor as desigualdades, seguindo a globalização e os fatores que a cercam muitas vezes às crianças repudiam aqueles que não seguem o padrão imposto pela sociedade consumista, ou até mesmo aqueles que pertencem ao grupo [...] “dos excluídos do mercado, do consumo, dos jogos, dos sites, dos quartos/informatizados, dos games” [...] (Dornelles, 2005, p.90).
Os educadores diante disso, portanto, procuram evitar essa banalização de que consumo é rotulo de poder, onde “quem tem mais, pode mais”, desconsiderar esse modelo de sociedade consumista, e tentar fazer com que dentro do ambiente escolar, todos sejam tratados igualmente, independentemente das diferenças de classes.
A fragilidade do imaginário infantil o coloca numa condição que possibilita a interferência de qualquer elemento que alcance o seu universo. Se inserido numa condição propícia a um desenvolvimento utilitarista que o coloque à mercê da voracidade de uma sociedade de consumo fútil, como a nossa, logo ele se torna um boneco de ventríloquo. Quando podíamos expor nossas crianças à liberdade das ruas, ao universo rico e deslumbrante das brincadeiras de roda, dos elementos da natureza, do corre-corre, do pega-pega, do esconde-esconde, nossas crianças estavam diante das coisas provando todas as diferenças e dificuldades, vivendo sem medos, sem preconceitos.
Ao isolarmos crianças ou situá-las em condições preestabelecidas estaremos projetando nelas as limitações que as condicionam a uma forma deturpada e preconceituosa de viver. Nas ruas a grande exposição às diferenças, a criação de espaços coletivos, a troca de experiências no desejo de brincar, as tornam mais tolerantes e sociáveis, suas diferenças não são ampliadas, e a grande diversidade de tipos humanos ali apresentados são fatores de desenvolvimento da sensibilidade nas relações pessoais e sociais, exercitando a tolerância e o carinho amigo, projetando o respeito ao próximo... Exercitando a democracia, portanto, sendo cidadãs.
A rotina estabelecida à uma criança sob a influência da mídia sugere uma quantidade limitada de elementos que serão incorporados no imaginário infantil, e exterioriza uma gama prevista de sintomas e reações necessárias para o controle eficaz da manifestação infantil, e para a condução de seu destino.
A mídia quando dominada por uma classe social, divulga uma visão preconcebida, preconceituosa e às vezes até segregacionista quando, por exemplo, estabelece um modo de viver que a perpetue.
Nossos meios de comunicação já nos trazem modelos prontos e acabados, não nos permite discutir ou alterar. A mídia traz tudo "certinho", como devemos ser, o que podemos querer, do que devemos temer. As diferenças naturais, as deficiências das pessoas são tratadas pela mídia de maneira assistencial onde prega a ajuda ao coitadinho, a tolerância aos infelizes.
O imaginário infantil quando está exposto a um desenvolvimento natural nada teme, nada pressupõe, nada pré conceitua. Nas ruas, nos ambientes coletivos, encontramos as crianças convivendo com seus desiguais de uma maneira harmônica e carinhosa, suas relações exprimem o desejo democrático de se equilibrar, a prática da solidariedade é clara.
As brincadeiras naturais e primitivas pressupõem igualdade, fraternidade, não se criam ídolos, deuses nem demônios, o respeito ao mais capaz, a admiração ao mais belo, a tolerância ao menos capacitada são explicitadas nas relações do cotidiano da criança que não sofre a interferência da mídia. Na mídia sempre encontramos manifestações claras de preconceito e intolerância, o belo estabelecido pela mídia é endeusado, levado à condição de superioridade, os mais destacados são colocados na condição de heróis, os mais simples, humildes e normais são colocados na condição de vassalos e adoradores, meros espectadores das ações de seus superiores, deuses e ídolos. Os que fogem de alguma maneira a estes tipos preconcebidos quando são lembrados, são colocados na condição de demônios, bruxos, anti-herois, párias. A exclusão é clara e indiscutível.
Hoje nos deparamos com uma geração no ocidente, que já é fruto direto da influência da mídia tecnológica em seu imaginário. É difícil não encontrarmos lugares onde as pessoas não tenham tido contato direto, e não tenham sofrido a influência de nossos meios de comunicação. Se a televisão não chegou, fato bastante remoto, o rádio provavelmente lá estará, e sua influência poderá nos parecer pequena se comparada com a televisão, mas ela também existe. Na televisão a imagem precede a fala e antecipa o sonho, corrompe o imaginário criativo; no rádio a fala precede o sonho, descreve a imagem, conduz o imaginário, mas o deixa livre para caricaturar o sonho.
Roubamos o direito da criança ser criança, com isto perdemos a capacidade de aprender com elas. Devemos lhes devolver o direito de brincar com seus próprios brinquedos, de serem lúdicas e geniais.
Brincar, além da satisfação das necessidades básicas de nutrição, saúde, habitação e educação, é uma atividade fundamental para o desenvolvimento das capacidades potenciais de todas as crianças. As crianças sempre brincaram ao longo da história e em todas as culturas.
Brincar é um ato instintivo voluntário e espontâneo. É uma atividade natural e exploratória, ajuda as crianças no seu desenvolvimento físico, mental, emocional e social. Brincar é um meio de aprender a viver e não um mero passatempo.
É preciso fomentar a criação de serviços comunitários em que a atividade lúdica permita a integração das crianças com deficiências físicas, mentais, ou emocionais na comunidade. Devemos proporcionar à criança tempo, espaço e recursos adequados para que possa escolher e desenvolver interesses individuais e de grupo. Encorajar cada vez mais, maior número de pessoas de diversas formações e níveis etários a ocuparem-se das crianças.
Deteriorou-se absurdamente e de forma deliberada o imaginário das crianças tentando-se destruir suas mais primorosas e gratuitas fontes de inspirações, mas, criança é vida, é magia, é fé e é energia, e estará sempre a nos surpreender a todo instante, pois, enquanto vida ela nos surpreende.
2.5- Globalização, tecnologias e consumismo: uma nova infância em construção
Ao entrevistarmos as crianças percebemos que seus interesses por produtos eletrônicos e industrializados são cada vez mais assíduos. Embora nem todas as crianças entrevistadas tenham acesso à Internet ou computadores, nos demonstraram ter grande apreço neste aspecto, uma vez que explicitaram a vontade de manter contato com este meio.
Em relação aos produtos, celulares, bonecas como a Barbie, Polly, carrinhos, principalmente os da marca Hot Whells, bolas, e brinquedos de montar foram algumas das citações das crianças. Elas nos disseram que preferem elas mesmas escolherem seus brinquedos, roupas ou o que querem ganhar; nem todas questionam o fato de que em alguns momentos, certas coisas são escolhidas por seus pais.
Ficou claro em nossa pesquisa que as crianças são muito exigentes frente aquilo que querem. neste contexto podemos citar DORNELLES:
“Ou seja, se preocupam com a moda, o look, o design, a decoração, com o fashion, com os games da última geração, com seus sites de produtos, com os brinquedos e jogos eletrônicos fabricados a partir das novas tecnologias” (DORNELLES, 2005, p.92).
É isso mesmo, o mundo globalizado está presente na vida das crianças como nunca, e estas cada vez mais apelam para continuar consumindo.
2.6- Pais, filhos e consumo: como agir diante desse conflito
Direcionamos aos pais perguntas referentes aos apelos de consumo dos seus filhos, para podermos entender esse processo no qual a criança desde cedo já deseja consumir, e o porquê de desejar especificadamente determinados produtos.
Através das respostas dos pais, podemos afirmar que estes não atendem diretamente aos apelos excessivos, só submetem-se caso haja condição financeira ou diante de pedidos simples, mantendo sempre controle e impondo limites.
Afirmam que propõem uma conversa aberta, na qual expõem aos seus filhos uma visão de que nem tudo que se quer, pode-se possuir, explicando questões financeiras e mostrando que existem outros fatores muitos mais necessários do que produtos superficiais.
A infância atual esta totalmente ligada aos meios de comunicação, e geralmente o interesse infantil é despertado por produtos que a mídia divulga, ou até mesmo deseja ter o que outras crianças possuem ou consomem. Sendo assim:
“Temos em nossas crianças um consumidor em formação, e a mídia tem se aproveitado disso com um forte apelo à afetividade, à aventura e ao poder” [...] (DORNELLES, 2005, p.107).
Todo esse mercado consumista está diretamente ligado à globalização; a infância faz parte desse contexto, e nos perguntamos, será fácil lidar com as crianças de hoje em dia? Obtivemos como resposta que os pais, mesmo possuindo certos impasses em relação a fatores globalizados como a mídia, o consumo e as tecnologias, conseguem impor limites, driblar os apelos de consumo de seus filhos, e tentam fazer com que se desenvolvam livres de protótipos criados pela sociedade globalizada.
2.7- Na Sinfonia dos Tempos
Primeiramente é necessário que repensemos a situação da infância em nosso tempo é algo que se modifica em função do momento e contexto social em que está inserida, não podendo ser meramente da ordem do estático ou do puramente abstrato. Sabe-se que no período da Idade Média, as crianças eram tidas como adultos em miniatura, e estavam sujeitas a todos os deveres de trabalho delegados aos mais velhos, bem como às mesmas vestimentas, histórias, enfim, sem que houvesse uma consciência de preservação infantil; passando pelo advento da criação da prensa tipográfica, onde o critério de segregação entre fase adulta e infância derivava do aspecto da alfabetização; até o surgimento, na Inglaterra, das instituições que conhecemos por Escolas, através das quais a noção de vergonha passou a fazer parte daquilo que separava os dois mundos e as crianças podiam aprender sobre um universo adulto, sem fazerem ainda parte dele, entendendo que havia segredos reservados para outro momento. Desde então a infância passou a estar, portanto, no centro das preocupações da sociedade moderna e toda uma demanda de profissionais e estudiosos se voltou para as características específicas desta fase tão determinante na vida do indivíduo.
Atualmente ainda outros aspectos, como a evolução dos meios de comunicação e o potencial de seu alcance, contribuem para a noção que temos de infância. Vivenciamos, portanto, a novidade de uma infância hiperealista, consumidora e socialmente ativa.
Hiperealista, porque as crianças estão inseridas num contexto de hiperealidade (STEINBERG e KINCHELOE, 2001), ou seja, vivenciando e se familiarizando com circunstâncias variadas através das quais recebem e experimentam uma gama de informações que extrapola a ordem do concreto, ou palpável, e se estende àquilo que toca o virtual ou é fruto de relações imaginárias.
Consumidora e socialmente ativa, porque falamos de crianças que têm voz nas decisões de compra da família; são capazes de administrar e selecionar um destino para o pouco (ou muito) dinheiro que recebem por mesada; e se apresentam enquanto um público que passa por um processo de fidelização que vai do berço ao túmulo (LINN, 2006), e é corporativamente trabalhado (STEINBERG & KINCHELOE, 2001) para ser hedonista e destituído de inocência.
“O Neoliberalismo dá origem a uma sociabilidade fragmentada baseada na lógica mercantil: só são reconhecidos os grupos constituídos por consumidores com base na relação dos seus membros com as empresas. A publicidade contribui decisivamente para a existência de identidades sociais vinculadas ao consumo de mercadorias. Trata-se de um mecanismo artificial de diferenciação social, marcado pela dimensão imaginária.” (COELHO, 2003:17).
Ou seja, nesta sociedade capitalista de consumo, não é no apropriar-se ou não dos meios de produção que se distinguem pessoas como pertencentes a uma determinada classe sócio-econômica ou à outra; o reconhecimento destes indivíduos, no entanto, reside em seu potencial de consumo. Nesse cenário, a publicidade aparece como um importante instrumento de atração e relação entre aquilo que se consome e aqueles que exercem tal atividade. De uma maneira muitas vezes sutil, possibilita o reconhecimento, promove a identificação, gera a expectativa e acaba por criar uma atmosfera de socialização, em tantos momentos despercebidos (FERRÉS, 1998), onde não há, sequer, mais de um indivíduo.
Em um contexto como este que vem sendo descrito, a quase onipresença da mídia chama a atenção pelo contato que tem com as crianças e, conseqüentemente, pelo que comunica e reflete sobre a infância do nosso período. Que tipo de programação tem sido desenvolvido para as crianças? Que valores são promovidos através do conteúdo daquelas?
O que, de fato, nossas crianças estão assistindo, ouvindo, lendo, acessando e consumindo? E em que parâmetro instituições, como a família e a escola, vêm perdendo o posto de referenciais no desenvolvimento das identidades infanto-juvenis?
Estes são alguns dos questionamentos que motivaram a concentração de forças nesta pesquisa que tem como objetivo compreender melhor a realidade de um universo que, enquanto publicitários, jornalistas, cidadãos e consumidores, ajudamos a promover para a infância contemporânea.
CAPÍTULO 3- O PAPEL DA TELEVISÃO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
“quando eu era rapaz aprendia na escola e aprendia na rua. Agora as crianças passam o dia na escola e diante do aparelho de televisão.”
Marcel Bruwal
O rápido desenvolvimento dos meios de comunicação ao longo do século XX modificou a forma como vivemos hoje em dia e ainda a forma como as crianças aprendem a passar o tempo. A televisão representa o mais extraordinário meio de comunicação de um século marcado pela tecnologia.
Antigamente, a família, a escola e mesmo a religião influenciavam em grande parte o desenvolvimento a nível intelectual, emocional e moral da criança. Hoje já não é assim... Pois houve uma grande mudança para as famílias e crianças, com o aparecimento de um grande entretenimento eletrônico: a televisão. LURÇAT afirma que:
“a televisão nunca ocupou tanto espaço na vida das crianças, sendo algo que se está a tornar demasiadamente viciante por parte da classe infantil, absorvendo grande parte do tempo livre das crianças e dos adolescentes.” (LURÇAT, 1995: 43).
Que a televisão foi criada principalmente para o entretenimento das pessoas, já se sabe. No entanto ela foi muito além, pois tornou-se um instrumento que gera novas ideologias, costumes, atitudes e, sobretudo, valores que são constantemente comparados com os da família e os da escola. É claro que não haveria problema se esta “concorrência” reforçasse os valores que todos conhecemos como essenciais à sobrevivência, à paz e à humanidade. Mas infelizmente nem sempre isto acontece.
Lazar defende que
“a criança não pode esperar atingir a idade em que se julga que está suficientemente madura para receber informação que lhe está destinada, mas ao carregar no botão do aparelho obtém um monte de informações que lhe podem ser radicalmente diferentes das provenientes da sua família ou da escola”. (LAZAR s.d: 63)
Os educadores sabem e apercebem-se do poder que as imagens possuem, criando e recriando uma realidade, independentemente do espaço e tempo que se pretenda representar.
Nos últimos anos, observa-se que o uso das imagens não serve para reforçar tanto estes valores como a solidariedade, a humildade, o respeito pelos outros e tantos outros parâmetros. Infelizmente, observam-se, inúmeras vezes, imagens onde a vingança e a morte são como que uma solução à violência.
Nos dias que correm é de notar o fato de que a televisão está ocupando o espaço de diálogo entre as famílias. Muitas vezes são as famílias que só se conseguem reunir à hora das refeições, e esta hora, em vez de se destinar a dialogar, é usada para assistir a programas de televisão. Como refere Lurçat “Quantas crianças, ao regressarem da escola, chegam a uma casa vazia, onde a única presença e a do televisor...” (LURÇAT, 1995: 44)
Tal problema irá refletir-se não só na família, mas também na relação pais/filhos. As crianças passam cada vez mais tempo em frente à televisão, não só devido ao fato desta lhes oferecer programas que muito apreciam, mas também por culpa, dos pais que não incentivam os filhos para outras atividades. O resultado pode ser um tanto ou quanto alarmante, como, por exemplo, levar ao atraso do desenvolvimento físico-motor das crianças.
OLIVIER alerta os pais dizendo que:
“ “ você deve fazer o possível para não abrir o receptor à hora das refeições”, “isto porque” a hora das refeições é sagrada, adultos e crianças reúnem-se à roda da mesa e podem descontrair-se.” (OLIVIER,1976:105).
As crianças distinguem desde muito cedo o que se destinam a elas do que se destina aos adultos. (Lurçat, 1995: 44), experimentando desde muito cedo estados de fascínio, expectativa, excitação, inibição, entorpecimento e às vezes medo, os quais se tornam modos quotidianos de reação. Estes estados fazem parte da sua relação com o mundo, uma vez que a televisão constitui uma boa parte do seu universo existencial. É através do contacto com a televisão que as crianças começam a observar o mundo que as rodeia. Tudo isto se reflete na formação da sua personalidade, uma personalidade despojada de capacidade de escolha e de iniciativa, tornando-se por isso pouco ativa.
É necessário que a sociedade em vez de desvalorizar a televisão pelos seus programas, procure assumir, alguma responsabilidade, tentando precaver os efeitos negativos da mesma.
É preciso, então, pensar que o mal não está na televisão apenas, estando, sim, no uso que se faz dela.
Assim seria mais fácil compreender que a escola e a família continuam a desempenhar um dos papéis mais importantes na formação cívica e escolar de uma criança, não mantendo o lugar privilegiado que ocupava antes do aparecimento da televisão.
3.1- Os desenhos animados como processo de socialização
“Quando se evoca o termo de socialização, é necessário lembrar que não se trata da adaptação progressiva de um ser primitivamente insociável, mas de saber como é que uma criança se integra num grupo social.” (Lazar.s.d: 64)
Conhecendo os processos de adaptação das crianças ao mundo que a cerca, empregando o ponto de vista do autor saberemos estudar o que realmente influencia a criança e quais as suas maneiras de sofrer essa mesma influência com os diferentes grupos com que se relaciona.
“A socialização começa quase à nascença do indivíduo e dura toda a sua vida” (Lazar: s.d: 63), pois desde que nascemos, aprendemos habilidades e valores observando tudo aquilo que nos rodeia, por mais insignificante que pareça. Se os bebês desenvolvem a sua linguagem e comportamento imitando os seus pais, a televisão apresenta também um papel importante no que respeita à socialização.
“Se é uma verdade que o jovem telespectador usa a televisão como fonte de divertimento, não é menos certo que procura as respostas às perguntas que faz sobre o mundo que o rodeia” (Lazar, s.d: 69), ou seja, a criança observa por meio da televisão fatores que lhe dêem essa mesma resposta, fazendo com que estas adquiram valores, mesmo sem terem qualquer experiência, de acordo com aquilo que observaram. Mas muitas vezes, “é verdade que a televisão traz numerosos conhecimentos que a criança ainda não questionou” (Lazar:s.d: 69) levando-a a pensar noutros temas que ainda sequer tinha pensado, baseando-se, depois, nos modelos da televisão para aprender a agir no mundo. As crianças aprendem, assim, estes valores por meio da observação e imitação, assim como as diferentes interações, quer sejam os erros ou tentativas.
Um bom exemplo deste fenômeno são os jogos dramáticos, onde a criança pequena tende a imitar a mãe ou o pai, experimentando os comportamentos adultos. Fazem isso, vestindo roupas dos pais, se maquilando, apresentando os comportamentos os quais observam com maior atenção.
São esquecidas, inúmeras vezes, da quantidade de violência que existe nas ruas e daquela violência com que as crianças se deparam constantemente, mesmo sem se aperceberem. Esta acontece não só nas ruas, mas, hoje em dia, também nas escolas, devido à imitação que muitas crianças fazem daquilo que observam.
Os menores estão perdendo a sua infância, devido à “extinção” do imaginário, de sonhar por um mundo que gostariam que existisse, de brincarem na rua como antigamente... Mas, em vez de fazerem tudo isto, está em frente de uma simples máquina tecnológica: o televisor. Seria bom refletir sobre esta “substituição”, pois não se deveria fazer da televisão o único ou maior meio de entretenimento.
Na moldagem do psiquismo infantil, existem modelos de adultos, pais, educadores, professores e outros heróis, com os quais a criança se identifica e que, por isso, influencia o seu comportamento. Estas atitudes e comportamentos farão parte do seu desenvolvimento, sendo refletidas na sua vida futura. É ainda conhecido pelos psicanalistas um mecanismo psíquico definido como “mecanismo da identificação”, que nos diz qual a importância da qualidade dos relacionamentos de adultos com crianças, assim como todo o meio que os rodeia, em fase de processo de desenvolvimento da criança.
Este mecanismo tão especial corresponde a experiências infantis, que serão como que bases para o desenvolvimento do indivíduo adulto. Sendo assim, dependendo dos estímulos que a criança recebeu e as suas condições genéticas, irão resultar em diferentes adultos qualitativamente mais saudáveis ou não.
As crianças até aos 18 meses de idade têm uma pequena capacidade de concentração, não prestando muita atenção à televisão. Mas aos 2 e 3 anos nota-se já algum interesse por parte do público infantil. Entre os 3 e 5 anos, tudo aquilo que é movimentado lhes chama atenção na televisão; notando-se que são atraídas por cenas violentas e rápidas. Dos 6 aos 12 anos, “entram” numa outra fase, onde existe o início de vício televisivo, imitando já muitas coisas daquilo que observam, levando-as, portanto, à imitação direta, pensando que a televisão reflete a vida verdadeira.
As crianças mais novas vêem os desenhos animados porque eles são como que “codificados”, ou seja, cada ação é feita por efeitos sonoros únicos, chamando a sua atenção.
E como a atenção das crianças tem dificuldade em fixar-se, estes sons vêm ajudá-las a ficarem atentas. Muitas vezes, se as crianças têm dificuldade em se concentrar é devido à desmotivação dos conteúdos programáticos, ou então, não são compreensíveis para elas. Assim, elas entendem apenas parte daquilo que observam, não conseguindo compreender toda a seqüência lógica do programa televisivo. Quando estão assistindo a cenas violentas, é perfeitamente natural que induzam para si mesmas que “ o mais forte é o que tem razão”, quer seja “bom” ou “mau”. Elas têm mais dificuldades em perceber as mensagens dadas pelas personagens, por mais simples que sejam, do que quando uma obtém e detém o poder, ganhando.
Embora as crianças imitem os comportamentos sociais que observam, imitam também os comportamentos violentos e agressivos que vêem nos desenhos animados sem conseguirem distinguir da violência real. É aí que está o mal. Ninguém se apercebe de que as crianças não conseguem distinguir o real da fantasia. Surge aqui uma relevância para com a televisão, pois: “... não está predestinada a desaparecer e é pouco provável que venha a constituir um ambiente favorável à socialização das crianças.” (POPPER, 1995:15).
É necessário entender o quanto a educação escolar e familiar é importante, sendo urgente dimensionar o papel que se desempenha pela exposição da criança aos estímulos destes meios de comunicação.
O mundo moderno infantil passa muito mais tempo na companhia dos heróis da televisão do que com o pai ou a mãe. Milhões deles substituem as suas ausências familiares, compensando os menores com a companhia da televisão “colorida” que se encontra, sempre presente. Os modelos que identificam as crianças em relação aos desenhos animados, sejam positivos ou negativos, acabam por emergir na sua influência comportamental.
Quanto menor e frágil for à criança, maior influência irá sofrer e mais influenciada será em relação aos heróis violentos, isto pela sua fragilidade, que faz com que queira ser mais forte. Esta mesma influência, levá-la-á a atos de imitação, fazendo com que construa o seu futuro com base nos seus heróis preferidos pois “ o lugar ocupado pelas emoções na vida das crianças torna-as particularmente receptivas aos efeitos da televisão.” (LURÇAT, 1998:117)
Pode-se,
“agora perceber como a televisão opera uma espécie de socialização, pois utiliza essencialmente emoções para manter o público em frente aos aparelhos de TV. Trata-se, no entanto, da forma mais elementar da socialização já que não inclui nenhuma representação e que não permite a tomada de consciência” (LURÇAT 1998: 115).
3.2- O processo de imitação
Durante bastante tempo, a Família foi o fator principal da socialização da criança. Depois, a escola passou também a fazer parte de um desses outros fatores, oferecendo valores que a criança ainda não conhecia:
“Inicialmente a família era o único lugar de transmissão dos conhecimentos e do saber fazer. A escola veio depois, oferecendo à criança outro local de transmissão social em que os valores não se sobrepõem inteiramente aos dos pais e em que os modos de interações não são os mesmos que os da família.” (Lazar, s.d: 66).
Os fatos mudaram com a revolução industrial, onde as pessoas começaram a ter preferência pelas cidades, com o objetivo de poderem encontrar melhores condições de vida.
Foi a partir desta altura que este objeto eletrônico passou a fazer parte da vida das crianças de uma forma absolutamente viciante. “Penetrando no coração do lar, a televisão modificou as etapas de iniciação ao mundo, portanto da socialização” (Lurçat, 1998, 121), substituindo cada vez mais o papel dos pais, assim como o da escola. “ “Infelizmente, a televisão modelou precocemente as atitudes e a sensibilidade, mas também retirou a criança do seu mundo protegido.” (Lurçat, 1998:122).
A televisão é uma espécie de “educadora eletrônica”, onde, na ausência dos pais, desperta a atenção dos menores, fazendo-os ficarem mais calmos e seguros, pois se sentem acompanhados por alguém de quem gostam e que não os “chateia”.
A vivência televisiva torna possível diversos fenômenos, como a imitação, primeira individual depois coletiva, reforçada pelo encontro com outras crianças nomeadamente na escola. À medida que as crianças vão vendo televisão, vão interiorizando modelos de comportamento e valores que tendem a imitar, embora estas procurem este aparelho para se divertirem e não propriamente para se instruírem. Aí está o problema. Não se apercebem que estão sendo influenciadas de forma direta e rápida.
Torna-se perigoso pelo simples fato de a criança não ver na televisão muitas vezes, o seu próprio mundo nem mesmo o mundo real que a rodeia. Diversas vezes, os menores “apenas” imitam o que vêem na televisão, não se apercebendo que poderá haver más conseqüências.
Segundo Lazar, a criança imita porque “ao longo dos espetáculos televisivos pode encontrar uma personagem que ache particularmente simpática ao ponto de desejar assemelhar-se “(s.a: 75). Embora por vezes imitem cenas de violência que vêem e aprendem a ser agressivas nas mais variadas formas, ficando mesmo convencidas de que essa atitude lhe trará recompensas. Mas a “criança não imita tudo o que vê, mas somente o que está de acordo com os modelos pessoais aceitos por si mesmas” (Lazar, s.a: 72), pois há como que uma identificação de si mesma para com a personagem ou herói de que tanto gosta. Por exemplo, “quando a serie do zorro passou na televisão, metade dos pequenos estudantes mascarava-se à Zorro a fim de “se aproximar da imagem do herói” (Lazar, s.a: 76).
Por outro lado, quando vêem as suas personagens ou heróis preferidos conseguindo aquilo que tanto querem por meio da violência, ficam mais aptas a imitar esses mesmos comportamentos, o que, se formos verificar, é normal neste processo de imitação do herói.
A ação televisiva sobre a sensibilidade e o imaginário não aparece só nos jogos e nas atitudes, mas principalmente nos desenhos. Os espetáculos violentos, tais como séries, informações, desenhos animados... Tem uma ação poderosa na sensibilidade e refletem-se em novas formas de violência.
Segundo estudos realizados, muitas crianças têm desenvolvido patologias relacionadas com a anorexia nervosa, obesidade, atividade cerebral um pouco afetada, agressividade, violência, assim como problemas profundos na linguagem, e outras doenças como alcoolismo e drogas. Para além destas patologias, tem-se verificado ainda, homicídios no meio escolar, que podem estar relacionados com processos de imitação no visionamento de desenhos animados, pois Lurçat afirma que “os jovens cometem cada vez mais delitos típicos de adultos e o aumento de criminalidade entre as crianças, assim como entre os adolescentes e os adultos, dever-se-ia a fenômenos de mimetismo, principalmente a partir de modelos televisivos” (1998:30). Esta visualização de desenhos animados relaciona-se ainda com processos mais imitativos do que propriamente criativos e imaginativos, verificando-se, pois, que servem mais para imitar do que para imaginar, infelizmente.
A criança apenas imita, não imagina. E os desenhos animados foram inventados para colocar a criança num mundo de fantasia, criando e recriando a sua imaginação, levando-a a sonhar, onde o mais importante não seria de todo apenas imitar.
São também promovidos inúmeros brinquedos para os menores, brinquedos estes que se baseiam nesses programas, os quais encorajam as crianças a imitar e a reproduzir as mesmas personagens nos comportamentos observados.
A apresentação da violência poderá gerar a mesma violência. Lazar defende que “são, sobretudo as crianças instáveis, pouco seguras que preferem a evasão do modo a se desembaraçarem dos seus problemas” (s.d: 76). Quanto mais inesperadas forem as cenas de violência, mais influências terão no telespectador, sem o levar a um ato propriamente de agressão. Pelo contrário, quantas mais vezes a violência aparecer sob a forma facilmente imitável, mais incitará à imitação.
A violência que é mostrada como eficaz, ensina ao menor o que é “premiado” na nossa sociedade. Isso faz com que a imitação nos comportamentos da vida real aumente, não só com a violência, mas também com o desrespeito pelos outros.
Os heróis violentos prejudicam mais o desenvolvimento das crianças comparativamente com os vilões violentos. Isto porque, a partir dos primeiros, as crianças competirão e imitarão alguém que julgam parecidos a si mesmos, pelas suas atitudes de herói. Estes são os modelos os quais elas preferem e que são sem dúvida, os mais atraentes, e conseqüentemente mais influentes.
Sendo a violência um ato de influência para as crianças, vão surgindo consequências desses mesmos atos de imitação, fazendo com que haja uma dessensibilização na sociedade, assim como uma falta de solidariedade para com as pessoas que poderão vir a sofrer algumas dessas consequências, tornando-se vítimas.
Visto os desenhos animados possuírem uma enorme agressividade no mundo de hoje, fazem parecer que estamos num lugar aterrorizante para a criança. Criança esta, que quanto menor for maiores probabilidades terá para sofrer influências televisivas, pois é bastante limitada, não compreendendo a diferença entre o real e o irreal no mundo televisivo. LURÇAT afirma mesmo que
“...a criança tem maior dificuldade em distinguir o real do imaginário. A criança só pode fazer essas distinções se for ajudada a desenvolver a capacidade de raciocínio, se lhe forem fornecidos os meios para contextualizar a experiência corrente.”
(LURÇAT 1998:52)
A criança precisa, então, de um acompanhamento televisivo, de alguém que comente com ela aquilo que vê, observando-a atentamente, fazendo com que esta desenvolva o seu próprio raciocínio e que não seja diretamente influenciada, pois embora não sejam elas as únicas a serem condicionadas pelos programas violentos, são as mais receptivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A temática aqui abordada requer, sem dúvida, uma análise social mais profunda. Descrever o contexto em torno do tripé consumo, mídia e criança, considerando a publicidade o elemento de ligação entre estes objetos estudados é um desafio que envolve o afastamento das tradicionais concepções de publicidade.
A publicidade faz parte do cotidiano social, certamente porque encontra na mídia seu canal necessário para sua propaganda. É o cerne do sistema de produção de capital, cujo apelo retórico, que mascara seu real objetivo, traz para o meio, grupos antes dispensados, tal como as crianças e adolescentes.
Este segmento já é parte do bojo que envolve o consumo da mercadoria sem propriedades funcionais objetivas, mas carregada de valores imateriais. A este respeito afirma Featherstone que:
“O consumo, portanto, não deve ser compreendido apenas como consumo de valores de uso, de utilidades materiais, mas primordialmente como consumo de signos.”(FEATHERSTONE 1995 s.p)
O consumo, portanto, na ótica da desconstrução, se estabelece como o não-consumo de valores de uso material, mas consumo de signos. Um processo semiótico onde a publicidade, com sua linguagem, estilo peculiar e seu caráter efêmero e cíclico, motiva e retro-alimenta a sociedade de necessidades. Não diferente a esta dinâmica está a criança, mais sujeita à suas formas, tornado-se mercadoria e de mercadoria vem sendo constituída.
Não podemos responsabilizar a televisão por todas as mudanças sociais. As causas são variadas, ligadas às mudanças econômicas e políticas, às misturas sociais e culturais, às mudanças na organização da escola e do trabalho, ao desenvolvimento dos tempos livres e a tantos outros fatores. Contudo temos de admitir os efeitos negativos que a televisão exerce, sobretudo nas crianças, sendo, portanto, uma ameaça “viva”.
A criança, como ser “em construção”, modela-se de acordo com aquilo que vive que vê que sente que faz. E, infelizmente a sociedade de hoje em dia, não tem tido o devido acompanhamento em relação ao desenvolvimento dos seus filhos. Isto porque os pais dividem o dia entre o trabalho e o descanso. Já não há tempo para estar com a família, conversar com os filhos e vê-los crescer, como antigamente. E a criança, vê na televisão algum reconforto, uma companhia que está sempre presente, como se de um amigo se tratasse.
É necessário educar as crianças no uso cultural da televisão, principalmente no que se refere aos desenhos animados, ajudando-as a ser exigentes e seletivas, relativamente à grande quantidade de programação que lhes é dirigida diariamente, pois na maioria das vezes, “a televisão traz respostas às perguntas que a criança ainda nem sequer questionou” (Lazar, s.a: 66).
Mas nem toda a programação infantil é de má qualidade. No entanto é de notar que os programas menos aconselhados são precisamente aqueles que a maioria das crianças mais gosta de ver. As crianças vêem os desenhos animados e preferem logo ter como personagens favoritas os violentos, lutadores, mas por outro lado, amigos também. Isto leva-nos a pensar que a criança não distingue o real do imaginário.
O tempo que as crianças levam vendo os seus heróis agredindo muitas vezes personagens amigas faz com que a criança possa vir a ter esses mesmos comportamentos, através do ato de imitação. Isto porque a criança se identifica com o seu herói.
Esta situação permitiu-nos verificar que, de fato, as hipóteses que surgiram, não só se confirmaram como responderam à pergunta de partida. Mostrou-nos também, que as crianças nem sentem que estão a ficar dependentes de uma coisa que pouco lhes ensina, mas que as consegue seduzir e influenciar.
A Escola tem, também, outro dos papéis importantes ao logo na vida e desenvolvimento da criança. Embora a escola e a televisão muitas vezes, demonstrem ser “inimigas” ou mesmo “rivais”, pensamos que ambas as partes deveriam compreender o lado do outro. Pois, tão diferente que são, cada uma é capaz de dar respostas a muitas dúvidas surgidas pelos menores. Muitos pais queixam-se de que as escolas não conseguem captar a atenção dos seus filhos. Então, se isto acontece, por que não levar a televisão para as escolas? Pois se esta tem o sucesso que tem junto aos mais jovens, decerto que teria também na área da escola, fazendo com que esta se tornasse mais motivadora para os alunos.
Seria bastante favorável e interessante estudar técnicas que estimulassem a aprendizagem dos menores, com o uso desta pequena, mas grande máquina eletrônica: a televisão. E para isso é necessário acabar com o mal entendido entre a escola e a televisão, agindo de uma forma de modo a evitar uma ruptura irreversível entre elas.Todos ganhariam com isso, principalmente, os futuros cidadãos: as crianças.
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